quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Insólita

Tanto a se dizer e a bendita: timidez o impede... Ter e ser o que se quer, oh bendita! E de ter quem se quer, de dizer a esse alguém - futuro provável - que realmente se quer e como... sonho insólito que a bendita nos impede de ter.
O ter é sonho e 'té mesmo no sonho a bendita nos priva de o ser! Oh bendita! Deveria, por força do hábito de impedir, chamar-se privadez: do real, do possível, do querível.
Privadez de vontades, de desejos, de dizeres...!
Teme e priva-se, mesmo que o querer seja tão forte ao ponto de gritarmos por outras vias. O corpo fala, a mente fala, e a insólita solitária privadez mata o desejo para saciar seu bel-prazer de simplesmente o ser: privadez.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

13 de novembro



13 de novembro de 1833- Chuva de estrelas: efeito da queda de meteoros (estrelas cadentes) é visto do Canadá até o México.


chuva de EsTrElAs
cadentes
no céu
brilham qual fogo

Imaginem o céu coalhado de estrelas?
glória no céu!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Monte Horebe

Como é bom e agradável a reunião dos jovens como o propósito de glorificar a Deus. No último final de semana (6,7 e 8 de novembro), experimentei uma comunhão deliciosa com os jovens do presbitério da IPI de Osasco, no qual tivemos o Senhor Jesus como inspirador, refeição, amigo, irmão... Ele esteve (e está) conosco todo o tempo a inspirar em nós a adoração e o louvor ao seu nome.
Temos muito, muito a agradecê-lo porque uniu-nos de tal forma que, certamente, viemos transformados e encararemos nossas aflições, desafios, tribulações num novo prisma, mais confiantes e felizes - mesmo em meio ao vale escuro.
Eis que tudo se fez novo em nós! Que a luz de Cristo brilhe em nós! Graça e paz a todos!

“Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza” (1Tm 4:12).

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Parabéns pra você

Hoje é dia da Cultura, a qual nos faz lembrar das boas amizades, daquelas com as quais somos formados... refiro-me aos bons livros, à boa música, à boa arte (de um modo geral). A amizade com um livro espanta e exorciza os demônios da solidão, do tédio, da falta do que fazer.
Viva a cultura!
Que a Cultura seja para nós como escreveu Pessoa: "Tenho a alma num estado de rapidez idetiva tão intenso que preciso fazer da minha atenção um caderno de apontamentos, e, ainda assim, tantas são as folhas que tenho a encher, que algumas se perdem (...)" Fernando Pessoa, caderno com folhas em branco a se preencher!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

31 de outubro

“Porque no evangelho é revelada, de fé em fé, a justiça de Deus, como está escrito: Mas o justo viverá da fé.” Romanos 1:17

Na Reforma, o Espírito de Deus falou aos nossos corações: a quem enviaremos? Quem há de ir por nós? Quem semeará a palavra? E Lutero ouviu seu chamado (como tantos outros mortos no passado), atendeu a sua voz e pregou suas 95 teses ao mundo, não as dele, mas as do Verbo.
Na Reforma, Lutero repartiu o Pão conosco, agraciou-nos, o Espírito, com as palavras de vida eterna. E, portanto, jorramos qual fonte que não seca.
Na Reforma, uma vez mais o véu foi rasgado, não havia tributos, indulgências, Césares a pagar, santos a intermediar, Marias a rogar por nós.
Na Reforma, e com a Reforma, aprendemos que há muito mais de Deus a se buscar, a se conhecer e a viver.
Na Reforma, aprendemos que dEle somos templo quando nosso coração (movido pelo Espírito) crer e nossa boca confessar que Jesus Cristo é Senhor e ressuscitou dentre os mortos.
Na Reforma, aprendemos que todos somos justos, porque pelo sangue do Cordeiro fomos justificados; que vencemos a morte e não mais precisamos pagar pelo Paraíso, porque de uma vez fomos comprados.
Na Reforma, entendemos que pela fé viveremos sem medo das tribulações, ou da morte.
Na Reforma, o Espírito revelou um Trino amor, pois que não havia judeu, gentio, branco, negro, rico ou pobre.
Na Reforma, foi-nos revelado que os mais miseráveis entrarão no reino dos céus; que Jesus está à porta de mãos estendidas a oferecer-nos seu amor.
Na Reforma, compreendemos que não há igreja de Deus, há, porém, seus filhos co-herdeiros da graça, a hospedar de uma vez para sempre o Preceptor.
E hoje? 31 de outubro? Dia das bruxas? Halloween?!
Igrejas reformadas vazias... apenas “gatos pingados” Não chorem os mortos, chorem pelos vivos os quais ainda não aprenderam que na Reforma, por mais uma vez, Deus revelou o Seu amor. E ainda há tempo para correr para Seus braços, porque Ele é tardio em irar-se e está a esperá-los de braços abertos para entregar-lhes a coroa da vida.
"Ao único Deus, nosso Salvador, por Jesus Cristo nosso Senhor, glória, majestade, domínio e poder, antes de todos os séculos, e agora, e para todo o sempre. Amém." Jd 1:25

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Haver

Tenho vontade de haver, tornar-me o verbo haver: na escuridão haja luz, no silêncio haja voz. Na guerra haver paz, do divórcio haver união...
O que há de haver?
Haja multiplicação do nada: da fome à fartura, do desamor ao transbordar-se de amor, das religiões a um só Deus, uma só paz. Do corpo da igreja a um só cabeça: Jesus.
O que há de haver?
Haja das ideias à solução: fartura, amor, paz, união...
Da falta haja o tudo, tudo que de nós puder haver para a multiplicação: das mãos estendidas, do saciar a fome, do aquecer o frio, da real globalização!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Qual?

Pensei em tantas ideias para escrever... tantas que é árdua a tarefa do escolher! Falar do dia dos santos os quais, supostamente, obram milagres? Do dia do comércio para as crianças? Da Reforma a qual tão logo aniversaria? Das pessoas que foram queimadas como hereges? Ou ainda do dia das bruxas?
Ideias apenas ideias...
Contudo, ainda surge-me a dúvida: sobre qual delas discorrer?
Idolatria, dinheiro, injustiça, ocultismo... apenas ideias!

domingo, 4 de outubro de 2009

Samanta

Ideias surgem a todo instante. Surgiu-me num colóquio entre amigos ontem à tarde. Qual? da amizade: a nossa com nossos animais.
Tenho um cachorra (cadela, como preferirem chamar) dálmata, a Samanta - nome escolhido pela minha mãe -, é uma amiga muito doce, companheira. Aprecia muito as brincadeiras, principalmente, jogar bola. Gosta de caçar rolinhas e pombas pelo quintal de casa, às vezes, para infelicidade das aves, consegue atacar e, por fim, matá-las, apenas pelo prazer, ou instinto. Assim também o faz com ratos, quando estes invadem o quintal, além das visitantes indiscretas, as baratas. Seu esporte favorito é o de brincar com as baratas, dá umas patadinhas até que elas ficam tontas e morrem.
Talvez, não entendam o motivo da ideia, eu, porém, explico. Além do colóquio, ao final da tarde, li Clarice: A mulher que matou os peixes, e nunca escrevi nada sobre minha mais fiel amiga. Samanta é muito devotada à sua dona (eu) e à minha família. Sempre nos recebe com um sorriso na cara, pois creiam, ela sorri; às vezes, um sorriso safado, porque calha de fuçar o lixo e sente culpa pelo crime e logo, entrega-se, porque sua consciência pesou...
A ideia surgiu-me para homenageá-la, para demonstrar meu amor por ela. Desde minha infância, sonhava em ter uma dálmata. E aos dezenove anos comprei-a pelo telefone. Chegou-me linda: laço vermelho no pescoço, contavam-lhe quarenta e cinco dias de vida exatamente. Quando a escolhi pedi que fosse alegre e sorridente (na alma) e quando cresceu, descobrimos que Samanta ria por gratidão, por amor, pela amizade devotada a nós (sua família), pelas suas safadezinhas cotidianas e por ser, simplesmente, feliz.
Mesmo que não saiba ler como nós, lerá (e lê) nas nossas atitudes e carinhos essa alegria que sentimos por tê-la aqui sempre ao nosso lado. A esperar-nos, às vezes, tarde da noite no portão, pois não consegue dormir até que todos cheguemos para que seu descanso e proteção sejam completos.
Obrigada Semy, Sasa.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

...

O ato de escrever é uma forma de compartilhar tudo que se tem de bom e de mau com o mundo: o mais recôndito de seus sentimentos, de suas vontades. Revelar-se ao outro e encontrar-se nele; esse é o viver sem fronteiras...
Creio que o globalizar-se é viajar na literatura, nas ambiências das histórias, porque todos - que escrevemos - esperamos ser lidos, esvaziar-se no outro, compartilhar nossas vicissitudes, acertos, dissidências...
Escrever é comungar, é multiplicar, é dar-se ao outro e esperar: a comunhão, a multiplicação das ideias, das dúvidas, das alegrias; quiçá receber a descomunalidade...

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Oxalá

Enquanto escrevo olho pela minha janela: o céu da primavera a metamorfosear-se num plúmbeo, carregado de chuva... Fez-me lembrar do desfecho de um de meus livros favoritos: "Ao ver aquela tanta água, lembrei-me das redacções que fazíamos sobre a chuva, o solo, a importância da água. Uma camarada professora que tinha mania que era poeta dizia que a água é que traz todo aquele cheiro que a terra cheira depois de chover, a água é que faz crescer novas coisas na terra, embora também alimente as raízes dela, a água faz 'eclodir um novo ciclo', enfim, ela queria dizer que a água faz o chão dar folhas novas. Então pensei: 'Epá... E se chovesse aqui em Angola toda...?' Depois sorri. Sorri só." (Ondjaki. Bom dia Camaradas) Também tenho essas ideias, às vezes; uma transformaçãozinha aqui no Brasil, no brasileiro não seria de todo mau.
Ver nossa gente a ser gentil com o próximo; o rico a acolher o pobre, estender-lhe a mão, ou mesmo políticos honestos?! Seria de todo mau?! Oxalá chova no Brasil!
Depararmo-nos com as realidades do dia a dia dói... crianças subnutridas; famílias sem guarida; homens a envenenar-se com seu ópio; o ódio que consome, mata, destrói... Oxalá chova no Brasil!

domingo, 27 de setembro de 2009

Igreja Reformada a reformar-se?

“Pai santo, pelo poder do teu nome, o nome que me deste, guarda-os para que sejam um, assim como tu e eu somos um.” Jo 17: 11b

No ano de nosso Senhor Jesus Cristo de mil quinhentos e sessenta, firmara-se, nos ideais Calvinistas, o presbiterianismo do escocês John Knox. Uma história nascia. Uma igreja histórica nascia. Solícita amadurecia, também em territórios americanos, embebida no desejo de expandir o reino da graça e da esperança de nosso Salvador: chegara, não a galope, mas desembarcara com Ashbel Green Simonton em doze de agosto de mil oitocentos e cinquenta e nove (os cento e cinquenta anos os quais comemoramos de Presbiterianismo no Brasil) em território brasileiro.
Desses cento e cinquenta anos, cento e seis aniversaria nossa Igreja Presbiteriana Independente – após uma triste divisão do “corpo de Cristo”, não perdemos, contudo, o Espírito o qual nos move a orar, a vivermos em “novidade de vida” e a evangelizar. O ensejo deve, portanto, levar-nos a reflexão: o Presbiterianismo brasileiro vive ainda os moldes da Reforma? Ainda é uma igreja reformada a reformar-se?
Que faria Jesus em nossos dias? Sairia a pregar a boa notícia: “sou o caminho, a verdade e a vida”, “o bom pastor”, “a fonte de água da vida”, “pão da vida”, “a ressurreição e a vida”, “a videira verdadeira”.
“Somos embaixadores de Cristo”, nossa missão é pregar o Evangelho, as boas novas da salvação e vivê-las. Pregar a mensagem da cruz de Cristo, porquanto nela encontramos salvação (e todas as promessas), representa, pois, nossa esperança, o motivo de nossa fé e pela qual há de se viver – “A teologia da cruz é, portanto, no passado e no presente, uma teologia de esperança para os desesperados, da aparente fraqueza e loucura da Igreja cristã.” (excerto parafraseado por Mark Shaw de Lutero). Se morremos com Ele; temos de viver como e para Ele, pois “Se continuarmos a suportar o sofrimento, também reinaremos com Cristo.” (II Tm 2:12).
Lutemos, portanto, pela unidade da Igreja: “Como fiel soldado de Cristo Jesus, tome parte no seu sofrimento. Pois, no serviço ativo, um soldado quer agradar o seu comandante e por isso não se atrapalha com os negócios da vida civil.” (II Tm 2:3-4). Trabalhemos pela construção do corpo de Cristo “Desse modo todos chegaremos à unidade na nossa fé e no nosso conhecimento do filho de Deus. E assim seremos pessoas maduras, pois cresceremos até alcançar a altura espiritual de Cristo.” (Ef 4: 13).
No simbólico trinta e um de julho, reflitamos nossa condição de cristãos: somos pequenos ungidos e temos como mandamento, da parte de nosso Senhor, pregar, viver segundo os preceitos bíblicos, exortar, amar, reformar-se... em Espírito e em Verdade! Celebrar a vida do Cristo ressurreto nos sacramentos que “trazem a morte de Cristo e todos os seus benefícios à nossa lembrança, para que a nossa fé possa ser mais bem exercida.” (Calvino). Porque exercer a fé é semeá-la nos corações arados pelo Senhor, nosso Deus, corações inóspitos e sedentos de amor e de salvação. “Porque somos dominados pelo amor que Cristo tem por nós, pois reconhecemos que um homem morreu por todos, o que quer dizer que todos tomaram parte na sua morte. Ele morreu por todos para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que morreu e ressuscitou para o bem deles.” (II Co 5: 14-15).
Soli Deo Gloria

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Reminiscências

Às vezes, eu me sinto pouco Matilda – para àqueles que a desconhecem, explico: Matilda é a história de uma menina autoditada, doce, inteligente, amorosa, a qual vivia num ambiente familiar muito diferente dela: o pai, vendedor de carros usados com peças roubadas; a mãe vivia a preocupar-se apenas com a aparência; o irmão era um “toupeira”. Seu sonho era ir à escola. Até que, por muita insistência de sua parte, o pai a matriculou. Conheceu uma professora tão doce como ela e as duas viveram momentos muito peculiares de felicidade. Voltemos agora ao início da ideia: sinto-me Matilda, motivo? Vejamos... não me identifico muito com os membros de minha família, por alguns motivos semelhantes aos de Matilda. E é nesse ponto em que ao longo da vida deparamo-nos com novos membros da família, os de adoção. Muitos dos quais nos reconhecemos como irmãos, pai, mãe, avô...

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

[In] dependência

Rememoramos no último sete de setembro nossa carta de alforria: a liberdade. Mas a que se refere essa tal liberdade?
Vivemos [in] dependência dos políticos, de suas leis, do empobrecimento: social, cultural, quantos outros "als" imaginar...
Comemorar o que não se tem, é sonhar com o impossível: mera quimera do pobre do homem, o qual trabalha, paga seus impostos, não tem aumento salarial. Aumentam-lhe as dívidas, as dificuldades, a pobreza, a desigualdade...

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Na calçada: meia vela e Dario

Reescrita do conto de Dalton Trevisan

De sombrinha na mão esquerda, Dario vinha apressado pela rua, virou a esquina, meio cansado, parou, recostou numa parede de uma casa qualquer. Deslizou, assentou na calçada que ainda estava molhada da chuva e pôs seu cigarro sobre uma pedra.
Dois ou três transeuntes começaram a questionar se se sentia bem. Dario, porém, apenas mexia os lábios, sem que nenhuma palavra fosse dita. O homem gordo, de roupa branca, sugeria se ele não estava a ter um ataque epilético.
Dario, no entanto, recaia-se mais sobre a calçada, agora estendido. O cigarro apagou-se. O moço de cavanhaque pediu passagem para que abrissem espaço para o homem respirar. Desafogou- lhe o paletó, o colarinho, a gravata e o cinto. Tiraram-lhe os sapatos, Dario soltou um ruído alto e feio, e bolhas espumavam-lhe boca afora.
Pessoas chegavam e procuravam avistar o acontecido, mas nada viam. A vizinhança conversava, as crianças com o barulho acordaram e de pijama espreitavam nas janelas. O homem gordo narrava os passos de Dario até aquele momento: recostou-se na parede, escorregou por ela e sentou no chão, encostou a sombrinha na parede, ainda a soltar a fumaça do cigarro. Já subtraídos.
Uma velhota de cabelos branquinhos gritava que Dario estava a morrer. Alguns o agarraram e o enfiaram num táxi parado na esquina. Dentro do carro, o taxista perguntava: quem pagaria a corrida? Aí chamaram o SAMU. Devolveram-no a calçada fria e molhada, puseram as costas apoiadas na parede – já não havia mais sapato, nem alfinete da gravata.
Levaram-no até a farmácia, mas o corpo era muito pesado, por isso largaram-no em frente à peixaria. Uma moscaiada pousava na cara dele, mas nem assim se mexia.
O café da esquina abrigava agora todo os curiosos do acontecido, deliciavam-se com os comes e bebes e com a noite. Dario permaneceu do mesmo jeito que o deixaram, já sem o relógio.
Outro sujeito muito do curioso averiguou-lhe os bolsos: papéis e muitos objetos retirados da camisa branca. Assim descobriram: nome, idade, marca de nascimento, e que era de outra cidade.
A viatura da polícia chegou; a multidão de mais de duzentas pessoas (conforme registro policial), ocupava toda rua e mais a calçada. Muitos passavam por cima do corpo, dezessete ao todo.
Um dos guardas chegou próximo ao corpo o qual estava irreconhecível e de bolsos vazios. O único bem que ainda lhe restava era a aliança na mão esquerda, porque ainda vivo não conseguia tirá-la sem que usasse um sabãozinho. Um comodoro preto o levaria.
Uma das bocas presentes retransmitia a notícia: Ele morreu, morreu. O povo todo se ia. O coitado levou duas horas para morrer, ninguém acreditava. Morrer assim? Já se podia ver o presunto.
Um velhinho muito apiedado da situação, retirou-lhe o paletó, afofou e pôs a cabeça do pobre em cima. Colocou as mãos cruzadas sobre a barriga. Os olhos e a boca abertos não puderam ser fechados, não espumava mais. Ainda, nas janelas, alguns curiosos descansavam seus cotovelos sobre as almofadas.
Um pretinho de pés descalços trouxe uma vela, acendeu e pôs ao lado do presunto. Quem olhava tinha a impressão de ele estar morto há anos, sem cor de tanta chuva.
As janelas seguiam a fechar-se: uma a uma. Exatamente após três horas, Dario, ainda estirado no chão da calçada, esperava o comodoro preto. Com a cabeça numa pedra, porque já não havia paletó, nem aliança, nem nada. A vela, pela metade, cansou de esperar e apagou-se com a chuva que voltava a descer.
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