Mostrando postagens com marcador Mary Jones. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Mary Jones. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Museu da Bíblia sedia encontro de pessoas com deficiência visual







Pelo quarto ano consecutivo, o Museu da Bíblia sediou o Encontro de Deficientes Visuais e instituições que trabalham com este público. Promovido pela Sociedade Bíblica do Brasil, o evento foi realizado no dia 23 de outubro, reunindo mais de 300 visitantes para um encontro de confraternização. A iniciativa integra o programa A Bíblia para Pessoas com Deficiência Visual, mantido há mais de 15 anos pela SBB. A programação teve início com a palestra A Bíblia como Instrumento de Inclusão Social, proferida pelo secretário de Comunicação e Ação Social da SBB, Erní Seibert. Depois de dar as boas-vindas, Seibert destacou que uma das riquezas da humanidade são as diferenças. “A Bíblia é um livro de inclusão social. No texto bíblico aprendemos os princípios que tornam possível a inclusão: o amor, o perdão e a tolerância. É por isso que a SBB utiliza a Bíblia como livro que promove a inclusão. Inclusão significa conviver com a diferença, como é o exemplo de Cristo”, ressaltou o secretário. Os organizadores convidaram os participantes que ainda não se cadastraram a integrar o programa A Bíblia para Pessoas com Deficiência Visual. A SBB produz, desde 2002, a Bíblia Sagrada completa em braile, na língua portuguesa, cujos exemplares são distribuídos gratuitamente a mais de 2,5 mil pessoas cadastradas, juntamente com o material em áudio. Além disso, a entidade desenvolve outros projetos que focam as pessoas com deficiências. “No próximo ano, já devemos ter a primeira porção bíblica em LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), contemplando, com isso, um grande contingente de pessoas com deficiência auditiva”, anunciou Seibert. Os participantes do encontro assistiram ao filme Coração do Pai, baseado na parábola do filho pródigo. A audiodescrição ficou a cargo da doutora em linguística, Lívia Motta. “Este é um recurso que amplia a informação para pessoas com deficiência em espetáculos e eventos variados. É uma forma de transformar o visual em verbal, contribuindo para a inclusão deste público”, observou Lívia, que atuou voluntariamente no evento e é a responsável pela preparação dos audiodescritores da primeira peça brasileira com audiodescrição no Brasil. Na cerimônia, foram revelados os vencedores do concurso literário A História de Mary Jones – O início do movimento das Sociedades Bíblicas. Organizado pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), o concurso de contos e poesias foi criado com o objetivo de destacar a vida da jovem que inspirou a criação das Sociedades Bíblicas, o começo deste movimento e o seu impacto na vida das pessoas, estimulando a criatividade de autores com deficiência visual ou não, e incentivando a leitura e a escrita em tinta e em braile. Os ganhadores foram representados por Diego de Lima Ribeiro, segundo colocado na categoria Contos – autores com até 16 anos de idade; e Juliana de Araújo, vencedora da categoria Contos – autores com idade superior a 17 anos – e terceira colocada na categoria Poesias, que receberam seus troféus e medalhas das mãos de representantes da SBB. Os demais ganhadores, moradores de outras cidades e estados, receberão a premiação em suas casas. Um momento de grande animação foi a premiação das ONGs com mais representantes. O primeiro lugar ficou para a entidade Amigos pra Valer, seguida da Fundação Dorina Nowill e da Associação de Deficientes Visuais Evangélicos do Brasil (ADEVEB). Para finalizar, os participantes fizeram uma visita à área de exposição do Museu da Bíblia.

Confira abaixo a relação completa dos vencedores do Concurso literário A História de Mary Jones – O início do movimento das Sociedades Bíblicas:

Contos – Autores com até 16 anos,11 meses e 29 dias
1º. Vinícius de Oliveira – Caxias do Sul (RS)
2º. Diego de Lima Ribeiro – Franca (SP)
3º. Jaqueline Cândido Pantis – Araruna (PB)

Contos – Autores com idade superior a 17 anos
1º. Ana Cláudia Lucena de Azevedo – Parnamirim (RN)
2º. Juliana de Araújo – Osasco (SP)
3º. Elenara Predebon Fernandes da Silva – Porto Alegre (RS)

Poesias – Autores com até 16 anos, 11 meses e 29 dias
1º. Rafael Mesquita Azevedo de Souza – Uberlândia (MG)
2º. Paula Hellmann Claudinno – Dourados (MS)
3º. Leonardo Samuel Idalencio – Caxias do Sul (RS)

Poesias – Autores com idade superior a 17 anos
1º. Rosana Aparecida Marques Roma Takachi – Esteio (RS)
2º. Juvenal Alves Correia – Senador Canedo (GO)
3º. Juliana de Araújo – Osasco (SP)

terça-feira, 26 de outubro de 2010

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Milagre em São Domingues

“...‘Ao Deus Desconhecido’. Pois esse Deus que vocês adoram sem conhecer é justamente aquele que eu estou anunciando a vocês.” Atos 17:23b

Das primeiras letras as quais aprendera Constância não nutria por elas amor, porquanto, pertencia a uma família de alto padrão social. Tinha uma vida vazia ainda que obtivesse tudo que desejava, seus pais realizavam todos os seus caprichos, todos os seus desejos... Era uma menina triste. Porém, sua vidinha, ao que parecia, rumava a uma abundância diferente: na escola em que estudava sua professora Clarice, a obedecer ao projeto social do planejamento escolar, organizou um encontro entre os alunos da escola com um estrato social distinto ao qual estavam habituados.
Eis que começa nossa história...
Viajaram alguns quilômetros até chegarem ao destino: um vilarejo humilde em que crianças como elas trabalhavam na lida. A professora conhecia com propriedade aquela rotina, pois trabalhara como qualquer criança daquele lugar, ou melhor, conhecia a todos que viviam naquele cenário. Nascera no vilarejo, e vivera sua infância lidando com a terra, alimentara os animais e ajudara sua mãe nos afazeres domésticos. Tivera uma vida simples.
Houvera um trabalho missionário dentro de um sítio não muito distante dali, todos conheciam o seu Zé, dono do sítio, em que Clarice todas as quartas-feiras visitava para ouvir os causos que narrava com toda sua simplicidade e encanto, foi atraída pelas suas histórias... Seu Zé era um homem simples, caboclo, semi-analfabeto, migrou do Ceará na década de sessenta, conquistara um pedaço de terra com muito suor de seu rosto. Gostava de contar suas histórias para as crianças da circunvizinhança. Um dia conheceu um jovem missionário, Artur, o qual era professor, e o convidou para uma prosa enquanto chupava mexericas colhidas do pé:
– Oli seu moço, sô um homi simples, contadô di história, mai num sei lê não, visse? Gosto di insina um poco da vida pras criança, conto meus causo e elas fica toda filiz...
– Seu José...
– Podi mim chama de Zé, seu Zé, tá bom?
– Sim, senhor! Pois então seu Zé, meu trabalho é ensinar crianças, alfabetizá-las através da Bíblia. Desde menino tive esse sonho, porque nasci em uma família rica que pôde me dar tudo que sempre quis: as melhores escolas, roupas, brinquedos... E eu de dentro do carro, enquanto ia para a escola, via crianças pedindo um trocado, vendendo alguma coisa, sendo exploradas por homens e mulheres... Senti que tinha que fazer alguma coisa, porque frequentava a igreja e via as famílias mais pobres se sentarem nos últimos bancos em trajes simples e sedentos das Palavras de Vida Eterna.... então quando iniciei a faculdade tive de romper com minha família, pois não aceitaram que eu fosse um missionário e vivesse humildemente. Muito tempo se passou desde a última vez que vi meus pais. Vivo pela misericórdia de Deus! – enquanto narrava um trecho de sua vida, as lágrimas molhavam o chão e a alma do seu Zé.
– U moço mim deixô sem palavra... qui ocê acha de insina as criança daqui? Eu imprestu meu sítio procê insina.
– Deus é bom, seu Zé!
– I num é?!
– Eu estava orando para encontrar um lugar em que pudesse ensinar e encontrei o senhor. Obrigada Senhor por responder as minhas preces!
– Ô seu Artu... num fique assim não, num chore, visse minino! Eu sô uma pessoa humilde, num sei iscrevê, mais posso oferecê minha casinha procê insina as criançada. O que ocê pricisa é só mi pidi, tá bom?
– Obrigada seu Zé, Deus o abençoe!
Assim começava a escolinha, na qual Clarice que acabara de completar quinze anos conheceu a Jesus e auxiliou ao seu mestre a aproximar-se de mais crianças. Com seu trabalho todos os pais daquelas crianças foram alcançados, apenas os pais de Clarice recusaram a ajudar e opuseram-se a ideia de Clarice participar do trabalho de alfabetização, pois achavam perda de tempo estudar. As bíblias, folhetos tudo que utilizou para salvar a vida daquelas crianças foram doadas pela Sociedade Bíblica que fornece literatura e bíblia para todo o mundo, além de suprir as necessidades de pessoas como Artur.
Clarice quando criança ensejava estudar mais, mais que os quatro meses os quais uma professora itinerante poderia ofertar. E Deus, em sua infinita graça, escolheu Artur para revelar-se a menina, para mostrar que a vida era mais que trabalhar para comer e seu sonho de estudar era possível. Ela via a alegria daqueles seus amiguinhos brilhar em seus olhos; pôde presenciar a transformação daquelas vidas pela Palavra Viva. E desejou naquele instante ser como Artur.
Era muito grata ao seu Zé, o contador de história, foi ele quem germinou em sua alma o desejo de aprender mais, de conhecer mais que aquelas histórias... quando leu pela primeira vez a história do menino Jesus, quis saber quem era o Messias e Artur explicava com muita paciência e amor:
– Clarice, Ele é o Salvador do mundo, morreu por nossos pecados em uma cruz!
– Entendi, mas do que somos salvos? O que é pecado?
– Uma pergunta complementa a outra... – respondeu Artur enquanto sentava-se em um dos bancos improvisados com blocos para a escolinha – somos todos pecadores, porque vivemos em um mundo que Satanás opera. Bem, deixe-me ser mais claro. Veja Clarice: quando um amiguinho seu pega uma mexerica do seu Zé sem pedir, o que ele faz é certo? Ou então quando um outro usa o estilingue para matar um passarinho pelo prazer de vê-lo cair no chão, é certo?
– Bem... o seu Zé naquelas histórias dele vive dizendo que a gente não deve machucar os bichinhos, que isso é coisa de gente malvada! É verdade isso não é certo! Mas as mixiricas... ele diz que a gente pode pegar quando quiser.
– Então entendeu o que eu quis dizer... o pecado é exatamente isso: fazer uma coisa que alguém desaprova! E Jesus com a sua vida nos ensina a amar as pessoas, a não querer o que é delas, a amar tudo que Deus criou e respeitar.
– Nossa como é bom esse Jesus... ele ensina coisas muito boas!
– E não é só isso... só podemos agir como ele orienta se estivermos dominados pelo seu Espírito, porque é Ele quem nos ensina todas as coisas boas que Deus quer que façamos.
– Espírito?
– É Espírito Santo, ele habita dentro de nós quando somos batizados, é a garantia da vida eterna.
– Ah então eu não tenho...
– Como assim? Quantos anos você tem?
– Oras quinze...
– E seus pais não a batizaram?
– Não...
– E você deseja ser batizada e conhecer Jesus em seu íntimo? – Artur estava muito feliz por conhecer alguém tão ávido como Clarice. Orava por ela desde a primeira vez que a vira.
– Sabe Artur... um dia, eu sonhei que estava dentro do rio e de repente vi alguém se aproximando, essa pessoa brilhava, brilhava tanto que eu não conseguia olhar em seus olhos e aí chegou bem pertinho de mim e me perguntou se eu queria ser batizada e ser uma mensageira. No sonho, eu aceitava e o homem derramava água sobre a minha cabeça e dizia que me batizava em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Tive esse sonho tantas vezes e todas as vezes acordava chorando, mas era de alegria, como se eu fosse outra pessoa, sabe?
– Clarice, você deseja experimentar de novo essa sensação? – Artur estava tão emocionado com a narrativa de Clarice, que suas palavras saíram descompassadas e envoltas de lágrimas de regozijo.
– Sim, sim, sim... – mil vezes sim, jubilava Clarice, numa explosão de uma tão felicidade que Artur jamais sonhara em presenciar.
Em seguida, os dois entraram no rio que ficava à margem do sítio do seu Zé e Artur a batizou em nome da Trindade, esse era seu primeiro batismo desde que chegara ao vilarejo São Domingues. O rosto de Clarice resplandecia a face do Senhor em toda a Sua glória! Depois do batismo sentaram-se na grama para secarem as roupas:
– Como está se sentindo?
– Molhada e muito feliz! Sinto que sou outra pessoa, a mesma coisa que senti depois de acordar daquele sonho, uma alegria e uma vontade de gritar.
– Pois então grite!
E Clarice gritou:
– OBRIGADA SENHOR, OBRIGADA SENHOR!!!
Artur aproveitou a oportunidade para presenteá-la com uma bíblia. Ela abraçava, chorava e beijava tanto aquele precioso livro que fez Artur lembrar-se de uma linda história:
– Você me fez lembrar de uma menina que recebeu em seus braços uma bíblia e como você a beijou, abraçou... essa história tem duzentos anos.
– Oras e como conhece? Qual o nome dela?
– Porque foi a partir dela que muitas pessoas como você ganharam a sua primeira bíblia. Mary Jones, uma menina que vivia no País de Gales um país bem distante daqui perto da Inglaterra. Quando tinha dez anos desejou muito ter uma bíblia, mas naquele tempo era muito difícil conseguir uma, principalmente, porque ela era muito pobre...
– Como eu? – indagava Clarice com os olhos atentos a cada movimento de Artur.
– Talvez mais pobre... era a única filha de uma família de cristãos, nenhum deles sabia ler, foi matriculada numa escola numa vila próxima a que morava e dedicou-se aos estudos como você, e tornou-se uma das primeiras alunas da classe, mas seu sonho de ter uma bíblia ainda era distante, trabalhava em tudo que surgia para conseguir dinheiro e economizava muito. Ao final de um ano, a quantia ainda era insuficiente. A espera da menina durou longos seis anos, até que foi à igreja que congregava e pediu uma bíblia ao pastor, mas ele disse que era impossível encontrar em sua vila, ou mesmo nas vilas da vizinhança um exemplar da bíblia, contudo lembrou que na cidade de Bala havia um pastor que costumava ter exemplares da bíblia para vender. Mas a cidade ficava a quarenta quilômetros de sua vila.
– E o que aconteceu?
– Mary não poderia desistir de seu sonho, então pediu para seus pais para ir até lá, no início, eles não concordaram, mas oraram e deixaram que a menina fosse. Para economizar os sapatos, a pequena galesa, fez o percurso a pé para não desgastar seu único par de sapatos. Andou o dia todo, chegou um momento que não aguentava mais e parou...
– Ai não acredito!
– Acalme-se Clarice... Ela não iria desistir depois de tanto tempo, então, levantou-se caminhou um pouco mais e avistou a cidade de Bala. Fico imaginando o que ela sentiu naquele momento...
– É verdade, deve ter ficado muito alegre...
– Quando chegou na casa do pastor... Thomas Charles, Mary foi surpreendida com a notícia que não havia mais nenhum exemplar em sua língua. A menina chorou tanto e narrou a sua história ao pastor, ele ficou muito comovido com a sua história... história que iria mudar o mundo... e aí lembrou que ainda havia dois exemplares encomendados e um deles era em sua língua e deu a menina. Ela só abriu sua bíblia quando chegou em casa para ler com os pais. Depois disso, o pastor Thomas contou a outros a história de Mary e todos se inspiraram e ali decidiram que isso não poderia mais acontecer, que todos deveriam ter acesso fácil à bíblia. E depois de muito orarem esses homens fundaram a Sociedade Bíblica Britânica em dezembro de 1802 com o intuito de traduzir, imprimir e distribuir a bíblia. E assim depois de muitos anos, de muitas mortes, a bíblia alcançou a todos e hoje é o livro mais lido em todo o mundo. E todos que a leem são transformados pelo poder que suas palavras têm.
– Que história linda Artur! Mas como assim mortes?
– Muitos homens tiveram esse mesmo sonho que todos tivessem acesso à palavra de Deus revelada, mas foram mortos, bíblias foram queimadas até que tivéssemos total acesso a ela; há muitos ainda em países distantes do nosso que as pessoas são proibidas de ter, ou mesmo, ler uma bíblia.
– Nossa... Eu quero fazer alguma coisa para levar a bíblia para outras pessoas como eu. O que eu posso fazer? Meu sonho é ser professora como você e fazer a mesma coisa que fez por mim e por meus amigos.

Depois dessa longa conversa, Clarice cresceu, estudou e formou-se professora e casou-se com Artur; juntos trabalharam com crianças como ela fora um dia: pobres e sedentas pela verdadeira sabedoria. Tempos depois, decidiram trabalhar na escola dos pais de Artur em que implantaram um projeto para que as crianças da alta sociedade conhecessem estratos sociais carentes e fossem transformadas pela experiência de aprender e servir a outras crianças.
Constância foi uma dessas meninas que transformadas, incitaram aos pais para investir em escolas rurais para que pessoas como Clarice tivessem a mesma oportunidade de conhecer as letras e a Jesus.

Prêmio: 2º Lugar no Concurso Literário A História de Mary Jones - O início do movimento das Sociedades Bíblicas

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Milagre em São Domingues

“...‘Ao Deus Desconhecido’. Pois esse Deus que vocês adoram sem conhecer é justamente aquele que eu estou anunciando a vocês.” Atos 17:23b

Das primeiras letras as quais aprendera Constância não nutria por elas amor, porquanto, pertencia a uma família de alto padrão social. Tinha uma vida vazia ainda que obtivesse tudo que desejava, seus pais realizavam todos os seus caprichos, todos os seus desejos... Era uma menina triste. Porém, sua vidinha, ao que parecia, rumava a uma abundância diferente: na escola em que estudava sua professora Clarice, a obedecer ao projeto social do planejamento escolar, organizou um encontro entre os alunos da escola com um estrato social distinto ao qual estavam habituados.
Eis que começa nossa história...
Viajaram alguns quilômetros até chegarem ao destino: um vilarejo humilde em que crianças como elas trabalhavam na lida. A professora conhecia com propriedade aquela rotina, pois trabalhara como qualquer criança daquele lugar, ou melhor, conhecia a todos que viviam naquele cenário. Nascera no vilarejo, e vivera sua infância lidando com a terra, alimentara os animais e ajudara sua mãe nos afazeres domésticos. Tivera uma vida simples.
Houvera um trabalho missionário dentro de um sítio não muito distante dali, todos conheciam o seu Zé, dono do sítio, em que Clarice todas as quartas-feiras visitava para ouvir os causos que narrava com toda sua simplicidade e encanto, foi atraída pelas suas histórias... Seu Zé era um homem simples, caboclo, semi-analfabeto, migrou do Ceará na década de sessenta, conquistara um pedaço de terra com muito suor de seu rosto. Gostava de contar suas histórias para as crianças da circunvizinhança. Um dia conheceu um jovem missionário, Artur, o qual era professor, e o convidou para uma prosa enquanto chupava mexericas colhidas do pé:
– Oli seu moço, sô um homi simples, contadô di história, mai num sei lê não, visse? Gosto di insina um poco da vida pras criança, conto meus causo e elas fica toda filiz...
– Seu José...
– Podi mim chama de Zé, seu Zé, tá bom?
– Sim, senhor! Pois então seu Zé, meu trabalho é ensinar crianças, alfabetizá-las através da Bíblia. Desde menino tive esse sonho, porque nasci em uma família rica que pôde me dar tudo que sempre quis: as melhores escolas, roupas, brinquedos... E eu de dentro do carro, enquanto ia para a escola, via crianças pedindo um trocado, vendendo alguma coisa, sendo exploradas por homens e mulheres... Senti que tinha que fazer alguma coisa, porque frequentava a igreja e via as famílias mais pobres se sentarem nos últimos bancos em trajes simples e sedentos das Palavras de Vida Eterna.... então quando iniciei a faculdade tive de romper com minha família, pois não aceitaram que eu fosse um missionário e vivesse humildemente. Muito tempo se passou desde a última vez que vi meus pais. Vivo pela misericórdia de Deus! – enquanto narrava um trecho de sua vida, as lágrimas molhavam o chão e a alma do seu Zé.
– U moço mim deixô sem palavra... qui ocê acha de insina as criança daqui? Eu imprestu meu sítio procê insina.
– Deus é bom, seu Zé!
– I num é?!
– Eu estava orando para encontrar um lugar em que pudesse ensinar e encontrei o senhor. Obrigada Senhor por responder as minhas preces!
– Ô seu Artu... num fique assim não, num chore, visse minino! Eu sô uma pessoa humilde, num sei iscrevê, mais posso oferecê minha casinha procê insina as criançada. O que ocê pricisa é só mi pidi, tá bom?
– Obrigada seu Zé, Deus o abençoe!
Assim começava a escolinha, na qual Clarice que acabara de completar quinze anos conheceu a Jesus e auxiliou ao seu mestre a aproximar-se de mais crianças. Com seu trabalho todos os pais daquelas crianças foram alcançados, apenas os pais de Clarice recusaram a ajudar e opuseram-se a ideia de Clarice participar do trabalho de alfabetização, pois achavam perda de tempo estudar. As bíblias, folhetos tudo que utilizou para salvar a vida daquelas crianças foram doadas pela Sociedade Bíblica que fornece literatura e bíblia para todo o mundo, além de suprir as necessidades de pessoas como Artur.
Clarice quando criança ensejava estudar mais, mais que os quatro meses os quais uma professora itinerante poderia ofertar. E Deus, em sua infinita graça, escolheu Artur para revelar-se a menina, para mostrar que a vida era mais que trabalhar para comer e seu sonho de estudar era possível. Ela via a alegria daqueles seus amiguinhos brilhar em seus olhos; pôde presenciar a transformação daquelas vidas pela Palavra Viva. E desejou naquele instante ser como Artur.
Era muito grata ao seu Zé, o contador de história, foi ele quem germinou em sua alma o desejo de aprender mais, de conhecer mais que aquelas histórias... quando leu pela primeira vez a história do menino Jesus, quis saber quem era o Messias e Artur explicava com muita paciência e amor:
– Clarice, Ele é o Salvador do mundo, morreu por nossos pecados em uma cruz!
– Entendi, mas do que somos salvos? O que é pecado?
– Uma pergunta complementa a outra... – respondeu Artur enquanto sentava-se em um dos bancos improvisados com blocos para a escolinha – somos todos pecadores, porque vivemos em um mundo que Satanás opera. Bem, deixe-me ser mais claro. Veja Clarice: quando um amiguinho seu pega uma mexerica do seu Zé sem pedir, o que ele faz é certo? Ou então quando um outro usa o estilingue para matar um passarinho pelo prazer de vê-lo cair no chão, é certo?
– Bem... o seu Zé naquelas histórias dele vive dizendo que a gente não deve machucar os bichinhos, que isso é coisa de gente malvada! É verdade isso não é certo! Mas as mixiricas... ele diz que a gente pode pegar quando quiser.
– Então entendeu o que eu quis dizer... o pecado é exatamente isso: fazer uma coisa que alguém desaprova! E Jesus com a sua vida nos ensina a amar as pessoas, a não querer o que é delas, a amar tudo que Deus criou e respeitar.
– Nossa como é bom esse Jesus... ele ensina coisas muito boas!
– E não é só isso... só podemos agir como ele orienta se estivermos dominados pelo seu Espírito, porque é Ele quem nos ensina todas as coisas boas que Deus quer que façamos.
– Espírito?
– É Espírito Santo, ele habita dentro de nós quando somos batizados, é a garantia da vida eterna.
– Ah então eu não tenho...
– Como assim? Quantos anos você tem?
– Oras quinze...
– E seus pais não a batizaram?
– Não...
– E você deseja ser batizada e conhecer Jesus em seu íntimo? – Artur estava muito feliz por conhecer alguém tão ávido como Clarice. Orava por ela desde a primeira vez que a vira.
– Sabe Artur... um dia, eu sonhei que estava dentro do rio e de repente vi alguém se aproximando, essa pessoa brilhava, brilhava tanto que eu não conseguia olhar em seus olhos e aí chegou bem pertinho de mim e me perguntou se eu queria ser batizada e ser uma mensageira. No sonho, eu aceitava e o homem derramava água sobre a minha cabeça e dizia que me batizava em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Tive esse sonho tantas vezes e todas as vezes acordava chorando, mas era de alegria, como se eu fosse outra pessoa, sabe?
– Clarice, você deseja experimentar de novo essa sensação? – Artur estava tão emocionado com a narrativa de Clarice, que suas palavras saíram descompassadas e envoltas de lágrimas de regozijo.
– Sim, sim, sim... – mil vezes sim, jubilava Clarice, numa explosão de uma tão felicidade que Artur jamais sonhara em presenciar.
Em seguida, os dois entraram no rio que ficava à margem do sítio do seu Zé e Artur a batizou em nome da Trindade, esse era seu primeiro batismo desde que chegara ao vilarejo São Domingues. O rosto de Clarice resplandecia a face do Senhor em toda a Sua glória! Depois do batismo sentaram-se na grama para secarem as roupas:
– Como está se sentindo?
– Molhada e muito feliz! Sinto que sou outra pessoa, a mesma coisa que senti depois de acordar daquele sonho, uma alegria e uma vontade de gritar.
– Pois então grite!
E Clarice gritou:
– OBRIGADA SENHOR, OBRIGADA SENHOR!!!
Artur aproveitou a oportunidade para presenteá-la com uma bíblia. Ela abraçava, chorava e beijava tanto aquele precioso livro que fez Artur lembrar-se de uma linda história:
– Você me fez lembrar de uma menina que recebeu em seus braços uma bíblia e como você a beijou, abraçou... essa história tem duzentos anos.
– Oras e como conhece? Qual o nome dela?
– Porque foi a partir dela que muitas pessoas como você ganharam a sua primeira bíblia. Mary Jones, uma menina que vivia no País de Gales um país bem distante daqui perto da Inglaterra. Quando tinha dez anos desejou muito ter uma bíblia, mas naquele tempo era muito difícil conseguir uma, principalmente, porque ela era muito pobre...
– Como eu? – indagava Clarice com os olhos atentos a cada movimento de Artur.
– Talvez mais pobre... era a única filha de uma família de cristãos, nenhum deles sabia ler, foi matriculada numa escola numa vila próxima a que morava e dedicou aos estudos como você, e tornou-se uma das primeiras alunas da classe, mas seu sonho de ter uma bíblia ainda era distante, trabalhava em tudo que surgia para conseguir dinheiro e economizava muito. Ao final de um ano, a quantia ainda era insuficiente. A espera da menina durou longos seis anos, até que foi à igreja que congregava e pediu uma bíblia ao pastor, mas ele disse que era impossível encontrar em sua vila, ou mesmo nas vilas da vizinhança um exemplar da bíblia, contudo lembrou que na cidade de Bala havia um pastor que costumava ter exemplares da bíblia para vender. Mas a cidade ficava a quarenta quilômetros de sua vila.
– E o que aconteceu?
– Mary não poderia desistir de seu sonho, então pediu para seus pais para ir até lá, no início, eles não concordaram, mas oraram e deixaram que a menina fosse. Para economizar os sapatos, a pequena galesa, fez o percurso a pé para não desgastar seu único par de sapatos. Andou o dia todo, chegou um momento que não aguentava mais e parou...
– Ai não acredito!
– Acalme-se Clarice... Ela não iria desistir depois de tanto tempo, então, levantou-se caminhou um pouco mais e avistou a cidade de Bala. Fico imaginando o que ela sentiu naquele momento...
– É verdade, deve ter ficado muito alegre...
– Quando chegou na casa do pastor... Thomas Charles, Mary foi surpreendida com a notícia que não havia mais nenhum exemplar em sua língua. A menina chorou tanto e narrou a sua história ao pastor, ele ficou muito comovido com a sua história... história que iria mudar o mundo... e aí lembrou que ainda havia dois exemplares encomendados e um deles era em sua língua e deu a menina. Ela só abriu sua bíblia quando chegou em casa para ler com os pais. Depois disso, o pastor Thomas contou a outros a história de Mary e todos se inspiraram e ali decidiram que isso não poderia mais acontecer, que todos deveriam ter acesso fácil à bíblia. E depois de muito orarem esses homens fundaram a Sociedade Bíblica Britânica em dezembro de 1802 com o intuito de traduzir, imprimir e distribuir a bíblia. E assim depois de muitos anos, de muitas mortes, a bíblia alcançou a todos e hoje é o livro mais lido em todo o mundo. E todos que a leem são transformados pelo poder que suas palavras têm.
– Que história linda Artur! Mas como assim mortes?
– Muitos homens tiveram esse mesmo sonho que todos tivessem acesso à palavra de Deus revelada, mas foram mortos, bíblias foram queimadas até que tivéssemos total acesso a ela; há muitos ainda em países distantes do nosso que as pessoas são proibidas de ter, ou mesmo, ler uma bíblia.
– Nossa... Eu quero fazer alguma coisa para levar a bíblia para outras pessoas como eu. O que eu posso fazer? Meu sonho é ser professora como você e fazer a mesma coisa que fez por mim e por meus amigos.

Depois dessa longa conversa, Clarice cresceu, estudou e formou-se professora e casou-se com Artur; juntos trabalharam com crianças como ela fora um dia: pobres e sedentas pela verdadeira sabedoria. Tempos depois, decidiram trabalhar na escola dos pais de Artur em que implantaram um projeto para que as crianças da alta sociedade conhecessem estratos sociais carentes e fossem transformadas pela experiência de aprender e servir a outras crianças.
Constância foi uma dessas meninas que transformadas, incitaram aos pais para investir em escolas rurais para que pessoas como Clarice tivessem a mesma oportunidade de conhecer as letras e a Jesus.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...