terça-feira, 27 de julho de 2010

Nos tempos da Bonança

Emanuel era um brasileiro que muitos desconheciam a origem, dos poucos, ou único, dos chamados de bem. Uns diziam que era judeu, outros, um boa praça, uns tais ainda, afirmavam-no ser do Oriente Médio, ou do litoral, pois tinha uma pele bronzeada como os do deserto ou os que residem mesmo no litoral.
Ele tinha um sonho. Qual? Reunir todos os povos pela paz, talvez, construir uma nova nação a ter por capital Jerusalém, realmente, judeu filho da diáspora e de pais sionistas. Desejava, contudo, ter essa nação um único Deus, um único credo, desligada de religião. Por esse sonho, saia a ensinar peripateticamente aqui e acolá. Sim, ensinava: um mundo de justiça, de paz, uma real globalização, respeito ao próximo e às diferenças (étnico-culturais).
Não podiam chamá-lo transeunte, porque fixava residência em todos os lugares pelos quais passava. Não, não fora rico – se vocês pensarem em poder aquisitivo –; rico, rico sim de alma, de sabedoria e de conhecimento, de amor pelo outro. Quando digo que fixava residência, refiro-me ao fato de ele deixar suas marcas, suas palavras em todos os lugares pelos quais passava. Os ouvintes apreciavam deveras suas palavras, porque também ouvia, sabia ouvir.
Nele outro sonho brotava: ser notícia da primeira página do New York Times – ensejado pelo primeiro, não que fosse motivo de lisonja para sua alma; seu desejo – seu sonho –, contudo, era o de que suas palavras fossem transmitidas no jornal e conhecidas pelo mundo para que as vozes louvassem a Deus em uníssono. Como, porém, um brasileiro sem poder (aquisitivo, de influência...) galgaria, ou mesmo, realizaria essa proeza?

Antes de iniciar a narrativa, precisamos esmiuçar as origens de Emanuel, além de sua condição de sionista. Filho da diáspora – como citei no início – da tribo de Judá (o povo judeu tem uma tradição oral e documentária, por isso sabemos a ascendência dele), fruto da união de Benjamim Stein (filho do fundador do sionismo) e de Rebeca Eisen Stein, austríacos de nascimento, erradicaram-se, vieram para o Brasil. – Desconheço, todavia, o motivo, ouvi dizer, que era “de força maior”, não afirmo nada para não me comprometer... – Sei, contudo, que as famosas linhas mal traçadas de Deus trouxeram Emanuel Benjamim Eisen Stein para o Brasil. Muitos o tomavam como sonhador, idealista, vejamos a história... Bem quanto ao sionismo fora um movimento iniciado no final do século XIX por seu avô, o qual tinha como ideal garantir a todo o povo judeu, espalhado pelo mundo, o direito de voltar a sua terra: Jerusalém. Em mil novecentos e quarenta e oito, o sonho fora realizado: passara a existir o Estado de Israel (tudo se iniciou no século VI a. C., mas isso é um ponto para outro conto), direito público o qual garantia a qualquer judeu regressar a terra mãe – chamada lei do regresso. Eis os fatos os quais culminaram para nossa história.
Emanuel, sionista por convicção, desejava mais que garantir aquele direito ao povo judeu, era incisivo quanto aos seus ideais; seu ideal – como de muitos pacifistas: reunir o povo numa única nação sem fronteiras, religião ou poder, a ter como principal mandamento: o amor, no qual entrelemos: o respeito, a igualdade, a justiça, realmente, justa, a paz. Ideais!...
Possuía muitos seguidores desprendidos “do mundo” e de seus males, os quais criam ser ele o Messias encarnado, manso, rei; o adoravam, chamavam-no Homem Deus, filho do Homem. Conheci-o dia desses, sua oratória é fascinante, arrebatadora, motivo pelo qual decidi investigar sua origem e narrar sua história. Não, eu não o tinha como Deus, acreditava ser um homem de Deus, mas não o próprio. Eu o ouvia e retinha dele o bom. Quando o ouvi pela primeira vez, afirmava:
– Todos somos filhos de Deus, co-herdeiros com Cristo no reino. Busquemos a paz, a igualdade, apartemo-nos de tudo que não é lícito, conforme os ensinamentos dos apóstolos do Senhor. Lutemos pelos ideais do Reino de Deus, para implantá-lo aqui no hoje. Irmãos, amar vale à pena! Usemos como arma nosso amor, busquemos a unificação dos povos sem guerra.
Todos o ouviam e abandonavam suas supostas vaidades e seguiam-no, dispostos a implantar esse reino do qual falava. Nas palavras de Emanuel havia tanta força que o movimento espalhou-se. Desde a primeira vez que os jornais noticiaram sua existência, o mundo movia-se conforme suas palavras: “apartemo-nos de tudo que não é lícito. Busquemos a paz.” No início, o povo judeu, ao redor do mundo, não o via como uma figura respeitável, digna de ser ouvida, mas, gradativamente, mudavam seu conceito à medida que ouviam seus ensinamentos.
Era um homem simples. Até mesmo os muçulmanos o aceitaram pacificamente, os hindus, os budistas, todos o ouviam; e ele caiu na graça do povo.

Não precisávamos mais de exército da paz, da ONU, de ter uma nacionalidade. Todos éramos filhos de Deus, tornamo-nos cristianos: uma única nação, um único credo, um único Deus, sem guerra, rei ou chefe de estado, sem opressão; apenas paz, apenas Emanuel guiava o povo, julgava nas raras vezes em que uma injustiça ocorria.

Numa manhã primaveresca ensolarada, céu azulado em que os pássaros gorjeavam, as folhas dançavam ao som do vento, Emanuel realizara seu segundo sonho, postumamente, o de ser capa do New York Times o qual tinha como título:

Emanuel: quem o viu?

Nosso reino paciocrático extinguiu-se com a morte do nosso mentor. Para infelicidade de nossa querida nação, o mestre partiu, morrera numa linda manhã de primavera aos cento e cinquenta anos. Após, oitenta e quatro anos de um reino de paz. Infelizmente, regressaremos a nossa ínfima condição: mortais individualistas.
Será que vivemos um sonho? Um bom sonho tivemos, experimentamos os tempos descritos e narrados pelo nosso preceptor. Anos pelos quais deveríamos lutar para que permanecessem, mas em sua partida levou tudo de bom que ainda havia em nós, deixou o mal ressurgir como a fênix das cinzas.... Continuaremos como somos, como nascemos para viver.
Saudades sentiremos destes tempos de ouro, desta bonança tão aprazível à nossa existência. Morreremos um dia, quem sabe, nesse dia, desfrutaremos eternamente desta santa delícia de nossos dias.
Eis que faço surgir meu protesto: Emanuel: quem o viu? Volte e revolva a paz aos nossos dias.
Frank R. Jones


O tempo da bonança, infelizmente, foi-se... com a morte de Emanuel, o povo entrou em choque e decidiu por plebiscito voltar à antiga rotina injusta anterior aos tempos de ouro, afinal, não haveria mais sentido seguir um morto, porque morto por morto os povos que não eram judaico-cristãos, preferiram seguir cada um o seu.

Um comentário:

J.F.AGUIAR disse...

Emanuel Deus é contigo e é conosco
Sempre em busca de Paz, Ju lindo
texto!

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